sexta-feira, janeiro 08, 2010

Tchekhov - Contos - Ilegalidade


Tchekhov consegue "resumir" Crime e Castigo de Dostoivesky, publicado um ano antes em 1866, em um conto de três páginas - Ilegalidade pg. 203
Um burocrata, descrito como um "assessor-colegial" , um exigente cumpridor dos deveres e responsável pai de família, é extorquido por uma ex-empregada em função de um suposto filho gerado fora do casamento e encontra um bebe à porta de sua casa de campo. Os pensamentos brotam em turbilhões: como esconder esta criança, como aliviar a culpa daquele desvio? Sai com o bebe embrulhado, imaginando abandoná-lo na casa de um comerciante.
Pergunta-se : O que será desta criança? Como adulto será um simples sapateiro ou um oficial respeitável?
Após abandoná-lo retorna e vê as formigas caminhando sobre o bebê. Arrependido pelo ato e tomado pela vergonha, encontra forças para assumir a criança, enfrentar a mulher e a sociedade, afirmando
" - O que tem que ser será! Não importa! Vou criá-lo. "
Enfrenta a esposa enfurecida que se enternece pela criança mais do que o pai. Foge do lar e encontra um caseiro desesperado à procura de um bebe deixando pela amante às portas de sua casa.

Diferente dos demais contos este tem um final feliz, uma moral e um hino à vida. O que pesa é a culpa, o julgamento íntimo, o crime não como ele é visto pelo olhar alheio e julgado por um tribunal, mas aquele que brota da consciência, no silêncio da solidão, da impossibilidade de confissão. Melhor seria cumprir uma pena fruto do julgamento alheio do que sofrer a condenação de si próprio.

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